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Foto: Marina Miano

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O MAR que pretende inundar de arte as ruas da cidade

Após remover um grande número de grafites, o prefeito tira do papel projeto que pretende valorizar essa manifestação artística

Junho 2017

   O início da gestão João Dória na Prefeitura de São Paulo ficou marcado pelo confronto entre o prefeito e os grafiteiros. Tudo porque um dos primeiros projetos de sua administração, o “Cidade Linda”, começou com o que ele chamou de recuperação da Avenida 23 de maio, e que visava apagar o maior mural de grafites a céu aberto da América Latina.

  Os artistas contrários à iniciativa nada puderam fazer a não ser ver a sua arte ser coberta de tinta cinza. Para o grafiteiro conhecido como Deley, de 18 anos, a decisão não só foi um desrespeito com os 200 grafiteiros envolvidos no projeto como também um desperdício de dinheiro público. “Os custos dos grafites na 23 de Maio, 
encomendados pela gestão anterior, foram de aproximadamente 1 milhão de reais. É dinheiro demais para ser pintado de cinza”, desabafa o artista.

    Para a professora Fabiana Almeida, de 38 anos, moradora da Vila Clementino, região próxima à avenida, muitos grafites já estavam com a tinta desgastada e outros tantos tinham sido pichados. Em sua opinião, era mesmo necessário um novo planejamento. “Infelizmente, os pichadores não respeitaram o projeto, e não adianta pintar de novo, porque, se pinta, eles picham por cima. O muro verde foi uma excelente solução”, diz ela. O muro ao qual a professora se refere é um jardim vertical implantado na avenida, com o objetivo de substituir os grafites e impedir pichações. Logo após o desentendimento entre grafiteiros e João Dória, a prefeitura resolveu enfim tirar do papel o Museu de Arte de Rua (MAR), que tem como objetivo divulgar e valorizar a arte urbana. A Secretaria da Cultura selecionou então oito áreas da cidade, todas afastadas do centro, para receberem a obra. Walter Tada Nomura, 44, conhecido no mundo do grafite como Tinho, afirmou que o projeto é excelente, porém, não é nenhuma inovação. “Ele (o MAR), já vinha sendo discutido desde o início da gestão Haddad e sofreu algumas alterações antes de ser finalmente realizado. Por ter sido aprovado depois de toda a polêmica, ele teve um caráter compensatório, mas não há relação nenhuma com ela”, afirma ele.           

   Tendo ou não relação com a decisão da prefeitura de cobrir os grafites, o MAR acabou ajudando os artistas que tiveram os seus desenhos apagados. Deley foi um deles. “Foi uma forma do prefeito se desculpar com os artistas. Eu participei do primeiro MAR, no início desse ano, por convite, mas acredito que isso não resolveu muito bem a situação do ‘gestor’ em relação a tudo o que aconteceu anteriormente”, opina o artista.

   Por intermédio de sua assessoria de imprensa, a prefeitura respondeu que projetos como o MAR são essenciais para a cidade e informa que já foi aberta licitação para pintar outros painéis do Museu de Arte de Rua em outras regiões da cidade de São Paulo.

   A polêmica, porém, está longe de terminar, mas agora não sobre o ato de grafitar, mas em que pontos da cidade as artes de rua serão permitidas.

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