top of page

Mantos imensos de fogo avançam por áreas florestais

Queimadas nos biomas brasileiros: prejuízos além das matas

Marina Miano Cardoso

IMG_2479.jpg

Alameda Tietê. Sede do Ibama. Foto: Marina Miano Cardoso.

Setembro 2020

A Coalizão pelo Clima organizou na sexta-feira, 25, uma vigília em defesa do meio ambiente em frente à sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama) em São Paulo, das 17 às 20 horas. O evento se inspirou no movimento “Fridays for Future” (sexta-feiras pelo futuro), criado pela ativista ambiental Greta Thunberg. Houve, também, mais de 3 mil protestos pelo mundo. Esse movimento começou em agosto de 2018 e tem por objetivo exigir de líderes políticos ações efetivas para evitar as mudanças climáticas, além de  alertar sobre os problemas e impactos de agora e os futuros. 

 

A articulação ampla e suprapartidária, que em 2019 ocupou a Avenida Paulista em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo) para protestar contra as queimadas na Amazônia, voltou este ano, mas teve como endereço a Alameda Tietê na região do Jardins. As pautas foram os biomas que estão cobertos por camadas densas de fumaças e fuligens resultantes de milhares de focos de incêndios no Pantanal e na Amazônia. Também a falta de ações de Ricardo Salles, Ministério do Meio Ambiente, por sua condução da pasta, além do desmonte da legislação ambiental e o sucateamento dos órgãos florestais.

 

Os incêndios no Pantanal, cuja área recobre partes dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tiveram início no dia 21 de julho e, pouco mais de dois meses em chamas, já alcançou 3.179.000 hectares, equivalente a 21,2% do bioma, uma área proporcional a 20 parques do Ibirapuera. As queimadas na região estão associadas a pelo menos três fatores, sendo eles: 

 

  • Aumento das atividades agrícolas e pecuaristas; 

  • Ação humana; 

  • Clima tropical aliado ao tempo seco. 

 

Apesar disso, as causas antrópicas são as mais comuns, que têm por finalidade ampliar o terreno para pastagem, controlar pragas e limpar a área. 

 

Em 14 de setembro, a Polícia Federal desencadeou a Operação Matáá — “fogo” na língua dos índios guató — que investiga ao menos quatro fazendeiros suspeitos de terem iniciado as queimadas. Os peritos da PF encontraram vestígios a partir de imagens de satélite da NASA (Agência Espacial Americana) e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). “Existem interesses em se apropriar de um espaço que é público. Os donos das terras e dos recursos, grandes fazendeiros e as pessoas manipuladas por eles para fazer esse desmatamento.”, diz a pesquisadora do CNPQ e educadora ambiental, Raquel Galera, 32 anos. 

 

Tal qual, na Amazônia, as queimadas se iniciaram em setembro, mesmo depois da proibição, por 120 dias, publicada no Diário Oficial em 16 de julho. Esses meses são os mais críticos na questão dos focos de incêndio, por se tratar do período mais seco da floresta. Isso faz com que cheguem cada vez mais perto do ponto sem retorno  — momento em que a mata não irá mais conseguir se regenerar e se intensificará o processo de desertificação. 

 

Ligando isso à demora do poder público em interferir nas queimadas dos biomas, a situação só se agrava. “Os discursos do presidente atual vêm fortalecendo muito o lado dos ruralistas, do agronegócio e dos fazendeiros”, conta a índia Parapety, de 24 anos. 

 

“Existem plantas, animais e insetos que vivem só ali (no bioma). Temos de admitir que não se conhece a totalidade daquele espaço, apenas sabemos indicadores. Portanto, a grande maioria das espécies e animais desse ecossistema nem sequer foram catalogados. Então há, de fato, o potencial de se perder espécies sem conhecê-las”, explica Raquel.

 

Após os incêndios,a biodiversidade sofre uma perda significativa, sem contar o empobrecimento do solo e desequilíbrio do ambiente antes riquíssimo em fauna e flora. “Os animais morrem queimados. Infelizmente os que mais sofrem são os bichos pequenos, como os répteis, os anfíbios e os mamíferos. Os maiores são resgatados por pessoas e organizações, mas alguns deles não conseguem ser reabilitados porque não têm mais o habitat que ocupavam e, pelos ferimentos, ficam muito vulneráveis e não conseguem retornar para a natureza de forma segura”, relata Raquel.

 

Toda essa perda não tem impactos apenas regionais. Mesmo a floresta Amazônica estando 2.790 km de São Paulo e o Pantanal a 1.695 km,  os efeitos são sentidos no meio urbano. Com a devastação da cobertura florestal não há evapotranspiração (água que as plantas liberam na atmosfera) e absorção das nuvens que também não se formam devido à grande quantidade de carbono produzido pelas fumaças. Isso afeta diretamente a distribuição de chuvas e auxilia no aumento das temperaturas. O resultado é a umidade baixa e dias cada vez mais quentes. 

 

A morte que essas chamas trazem, o cemitério a céu aberto da fauna e flora que é deixado, todo o sofrimento deflagrado,  não foram capazes de aplacar o fogo que consome esses biomas. “Às vezes, depois das queimadas, não tem como se recuperar o solo. O que sobra é o sangue derramado dos animais e dos povos indígena”, finaliza Parapety.

IMG_2491.jpg
IMG_2490.jpg

Alameda Tietê, Jardins. Fotos: Marina Miano Cardoso.

bottom of page